O bordado FILÉ (originário do francês “filet”) é um produto genuinamente alagoano de característica e saberes herdados hereditariamente pelos seus criadores artistas artesãos. Esta rede, que de fato, é um bordado sobre uma rede de fios complexos em sua execução aos olhos do leigo e de total domínio de seus mestres e mestras, nos fez pensar num paralelo deleuziano de redes e fios de conhecimento e saberes culturais transmitidos, no nosso caso, pelas artes cênicas aonde a simples estrutura básica como uma tela de base do bordado vai se configurando em pontos diversos e nós que originam o multicolorido resultado do bordado ou as criativas cenas teatrais.
A origem do ‘filet’, esta ligada intrinsecamente
à antiguidade, tendo sido encontrado em tumbas egípcias e na Pérsia (há autores
que afirmam que sua origem é persa). Também na Itália renascentista foram
encontrados bordados de ‘filé’ no espólio de Dª Catarina de Médici que tinha
grande apreço por este tipo de bordados, assim como no de suas filhas e de suas
criadas que passavam grande parte dos dias dedicada ao bordado de quadros em
‘filé’. Neste momento renascentista tivemos nascimento e auge da Commedia
dell’Arte que por feliz coincidência como num nó colorido da renda também foi
patrocinado pela família dos Médici e a própria Catarina foi quem patrocinou a
ida de diversas importantes companhias de comediantes dell’Arte para a França
que batizaria o nome do bordado de ‘filet’. De lá chegando a Portugal que será
nossa importante matriz cultural dos folguedos e cultura brasileira miscigenada
pelas nações aqui existentes. No nosso complexo estuário das lagoas Mundaú e
Manguaba nos conta a história que as mulheres e a igreja são seus grandes
mantenedores desta arte.
Ivanildo Piccoli
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